الجمعة، 1 أغسطس 2014

Gaza no coração


*Jalid Jum'a (Ramala)*
Cidade do México, 22 de Julho de 2014

Saudações a todos os presentes, e muito obrigado por este convite.
Gostaria de falar das mentiras difundidas pela imprensa israelense.

Por exemplo, Israel diz que ela adverte aos palestinos antes de lançar seus mísseis; que nos fazem saber do bombardeio de uma casa antes de destrí-la. Sim, nos advertem. Nos advertem com um míssil fatal, que lançam de uma avião F16, e isto para nos advertir que, dentro de 67 segundos, nos irão lançar outro míssil mais sofisticado, mais forte e preciso.

Que pode alguém fazer em 67 segundo?

Ademais, Israel disse que os objetivos de seus bombardeios não são os civis. Mais de 85% dos assassinados até agora são civis: crianças, mulheres, idosos.

Hoje [terça-feira, 22 de julho] Israel assassinou a uma mulher grávida de oito meses. Ontem matou a uma familia inteira de sete pessoas.

Israel diz que não está matando civis, e que estão deixando as ambulâncias ajudar aos feridos. Agora, en estes momentos, os aviões e tanques insraelenses estão bombardeando o bairro de Jaza'a na cidade de Jan Yunis no sul da Faixa. Há um grande número de palestinos sepultados de baixo dos escombros, e Israel impede as ambulâncias de entrar em Jaza'a. O mesmo ocurreu no bairro de al-Shuya'iyya na cidade de Gaza [o massacre de 66 palestinos neste bairro no passado dia 20 de julho].

Israel está mentindo, está mentindo, está mentindo.

Isto não é o que está acontecendo.

Não só está matando aos palestinos, senão também está roubando seu direito de gritar.

Muito obrigado.


* * *


*Execução de ordens*
*Lena Khalaf Tuffaha (Amman, Jordania)*

Nos estão ligando por telefone, um momento antes de deixar as bombas cairem. O telefone soa e respondo. Do outro lado, há alguém que conhece meu nome, e fala perfeitamente árabe, e me diz: “está falando David”. Enquanto escuto a sinfonía de estampidos sônicos e vidros quebrados, penso: “Conheço algum David em Gaza?”. Mas nos ligaram pelo telefone para nos dizer que corramos daqui, agora. “Vocês têm 58 segundos a partir do final dessa chamada, antes que a casa de vocês seja bombardeada. Não nos importa que você não tenha onde dormir; que as fronteiras estejam fechadas; e seus docuementos não valem um caralho, salvo uma pena de cadeia perpetua nessa prisão ao lado do mar. Corre senhora. Não queremos matá-la”.

“Já sabemos que aí só vive você e seus filhos, comendo pão enquanto vêem a final da Copa do Mundo de Futebol; que querem que Argentina ganhe a partida, e de vez em quando olham para as velas deixadas ao lado da televisão, para quando se corte a luz. É que, você e seus filhos não deveriam viver aí, e agora é sua oportunidade de ir a outro lugar, a nenhum lugar. Sabemos que não te estamos dando suficiente tempo para encontrar o álbum de fotos, a manta favorita do seu filho, a solicitação à universidade quase concluída pela sua filha, seus sapatos, nem sequer para avisar a todos na casa. Não nos importa sua vida. Não nos importa quem é você. Mas nos demonstre que você é um ser humano; nos demonstre que você tem patas; nos demonstre que você pode correr”


* * *


*Jalid Yum'a (Ramala)*

Estar só, o corpo tremendo, e sem luz.
Rezar e esperar que morras em uma sola parte.
Passar ao lado de uma casa destruida, e perguntar-se se ese fragmento formava
parte da cocinha ou éa mão de um martir.
Quando um chuveiro é um luxo exagerado
Quando o mar é um sonho.
Quando a bolsinha de chá é para quatro xícaras.
Quando tudo tem sabor de pedra, inclusive o sorriso.

Ver corpos queimando-se sem poder se aproximar, porque sabe bem que o próximo bombardeio é em 40 segundos, e que será pontual.
Olhar na cara do seus filhos, seus olhos cravados na sua, mas vira o rosto para o outro lado.
Medir a distancia entra a janela que vai para a rua e o banheiro.
Quando sempre dizias que iria tampar essa pequeno buraco na parede da sala, e foi ele que cresceu para salvar sua vida.
Quando a diferença entre um cadeira e uma mesa é a mesma que entre a vida e a morte.
Quando o sonho de conseguir um cigarro é tão distante como o sonho de libertar Palestina.
Quando um minuto é um dia e meio.
A guerra é tudo isso, e muito mais.


* * *


*Mahmud Yawda (Gaza)*

Contarei para vocês o mais dificil de tudo isso, mais dificil que a morte por esses misseis profissionais, de última tecnología. É quando alguém recebe uma chamada telefônica do inimigo israelense e que te diga que você tem 10 minutos para deixar a casa. Se imaginem, 10 minutos. São 10 minutos para apagar sua pequena historia do mapa: presentes; as fotos dos seus amigos, filhos, já sejam martires ou que ainda respirem; sua cadeira; seus livros; o ultimo livro de poemas que leu; a carta que te escreveu sua irmã migrante; o cheiro da sua cama; seu hábito de acariciar o jasmim flutuando na sua janela, essa janela que alguém construiu há 100 anos; o pente da sua filha; o calor da cadeira; sua roupa velha; a almofada de oração; as joias da sua esposa; as economías de toda uma vida...

Se imaginem, que enquanto isto passa pela sua cabeça, o único que se pode fazer é agrrar a caixinha de doces na qual guarda seus documentos oficiais e corer para morrer 10 vezes; ou fica na sua casa, para morrer só uma vez.


* * *


*Manal Miqdar (Gaza)*

Não é o que estão imaginando. Pois o que vivemos não tem nada a ver com sentimentos vãos como coragem, dingnidade. À noite passada foi a mais dura, mas dessa vez não chorei.

Pela manhã, depois do primeiro bombardeio dos aviões sionistas, agarrei minhas forças e comecei a juntar minhas coisas: documentos oficiais, meu diploma universitario e escolar, certificados, presentes, o que ficou nas cartas que me escreveu meu tio (quem seguee preso numa cadeia israelense), meu celular e laptop...

Mas continuei olhando minha segunda biblioteca, pois a primeira perdi na guerra passada. Que faço com os livros? São pesados, e seria dificil carregá-los quando tenha que correr. Então decidi ficar com aqueles que levam deicatorias dos seus autores.

De repente senti raiva de mim mesma; essas dores pungentes que podem matar. Eu, pensando nas minhas coisas... Mas e se a morte me alcança mais rápido do que eu alcanço minhas coisas? A morte me agarrará de surpresa, sem avisar, e eu irei com ela sem memoria nem papéis, nem livros, nem queridos, nem amigos, nem presentes, enm sonhos... Irei só e leve.

*Pós-escrito. a meus amigos que tenham livros meus emprestados: se morro, fiquem com eles, são seus.
*Pós-escrito a meu primo: se não acontecer nada com minha biblioteca, ela é sua.



(Traducción al portugués por Leandro Bonecini de Almeida)

ليست هناك تعليقات: