*Jalid
Jum'a (Ramala)*
Cidade
do México, 22 de Julho de 2014
Saudações
a todos os presentes, e muito obrigado por este convite.
Gostaria
de falar das mentiras difundidas pela imprensa israelense.
Por
exemplo, Israel diz que ela adverte aos palestinos antes de lançar
seus mísseis; que nos fazem saber do bombardeio de uma casa antes de
destrí-la. Sim, nos advertem. Nos advertem com um míssil fatal, que
lançam de uma avião F16, e isto para nos advertir que, dentro de 67
segundos, nos irão lançar outro míssil mais sofisticado, mais
forte e preciso.
Que
pode alguém fazer em 67 segundo?
Ademais,
Israel disse que os objetivos de seus bombardeios não são os civis.
Mais de 85% dos assassinados até agora são civis: crianças,
mulheres, idosos.
Hoje
[terça-feira, 22 de julho] Israel assassinou a uma mulher grávida
de oito meses. Ontem matou a uma familia inteira de sete pessoas.
Israel
diz que não está matando civis, e que estão deixando as
ambulâncias ajudar aos feridos. Agora, en estes momentos, os aviões
e tanques insraelenses estão bombardeando o bairro de Jaza'a na
cidade de Jan Yunis no sul da Faixa. Há um grande número de
palestinos sepultados de baixo dos escombros, e Israel impede as
ambulâncias de entrar em Jaza'a. O mesmo ocurreu no bairro de
al-Shuya'iyya na cidade de Gaza [o massacre de 66 palestinos neste
bairro no passado dia 20 de julho].
Israel
está mentindo, está mentindo, está mentindo.
Isto
não é o que está acontecendo.
Não
só está matando aos palestinos, senão também está roubando seu
direito de gritar.
Muito
obrigado.
* * *
*Execução
de ordens*
*Lena
Khalaf Tuffaha (Amman, Jordania)*
Nos
estão ligando por telefone, um momento antes de deixar as bombas
cairem. O telefone soa e respondo. Do outro lado, há alguém que
conhece meu nome, e fala perfeitamente árabe, e me diz: “está
falando David”. Enquanto escuto a sinfonía de estampidos sônicos
e vidros quebrados, penso: “Conheço algum David em Gaza?”. Mas
nos ligaram pelo telefone para nos dizer que corramos daqui, agora.
“Vocês têm 58 segundos a partir do final dessa chamada, antes que
a casa de vocês seja bombardeada. Não nos importa que você não
tenha onde dormir; que as fronteiras estejam fechadas; e seus
docuementos não valem um caralho, salvo uma pena de cadeia perpetua
nessa prisão ao lado do mar. Corre senhora. Não queremos matá-la”.
“Já
sabemos que aí só vive você e seus filhos, comendo pão enquanto
vêem a final da Copa do Mundo de Futebol; que querem que Argentina
ganhe a partida, e de vez em quando olham para as velas deixadas ao
lado da televisão, para quando se corte a luz. É que, você e seus
filhos não deveriam viver aí, e agora é sua oportunidade de ir a
outro lugar, a nenhum lugar. Sabemos que não te estamos dando
suficiente tempo para encontrar o álbum de fotos, a manta favorita
do seu filho, a solicitação à universidade quase concluída pela
sua filha, seus sapatos, nem sequer para avisar a todos na casa. Não
nos importa sua vida. Não nos importa quem é você. Mas nos
demonstre que você é um ser humano; nos demonstre que você tem
patas; nos demonstre que você pode correr”
* * *
*Jalid
Yum'a (Ramala)*
Estar
só, o corpo tremendo, e sem luz.
Rezar
e esperar que morras em uma sola parte.
Passar
ao lado de uma casa destruida, e perguntar-se se ese fragmento
formava
parte
da cocinha ou éa mão de um martir.
Quando
um chuveiro é um luxo exagerado
Quando
o mar é um sonho.
Quando
a bolsinha de chá é para quatro xícaras.
Quando
tudo tem sabor de pedra, inclusive o sorriso.
Ver
corpos queimando-se sem poder se aproximar, porque sabe bem que o
próximo bombardeio é em 40 segundos, e que será pontual.
Olhar
na cara do seus filhos, seus olhos cravados na sua, mas vira o rosto
para o outro lado.
Medir
a distancia entra a janela que vai para a rua e o banheiro.
Quando
sempre dizias que iria tampar essa pequeno buraco na parede da sala,
e foi ele que cresceu para salvar sua vida.
Quando
a diferença entre um cadeira e uma mesa é a mesma que entre a vida
e a morte.
Quando
o sonho de conseguir um cigarro é tão distante como o sonho de
libertar Palestina.
Quando
um minuto é um dia e meio.
A
guerra é tudo isso, e muito mais.
* * *
*Mahmud
Yawda (Gaza)*
Contarei
para vocês o mais dificil de tudo isso, mais dificil que a morte por
esses misseis profissionais, de última tecnología. É quando alguém
recebe uma chamada telefônica do inimigo israelense e que te diga
que você tem 10 minutos para deixar a casa. Se imaginem, 10 minutos.
São 10 minutos para apagar sua pequena historia do mapa: presentes;
as fotos dos seus amigos, filhos, já sejam martires ou que ainda
respirem; sua cadeira; seus livros; o ultimo livro de poemas que leu;
a carta que te escreveu sua irmã migrante; o cheiro da sua cama; seu
hábito de acariciar o jasmim flutuando na sua janela, essa janela
que alguém construiu há 100 anos; o pente da sua filha; o calor da
cadeira; sua roupa velha; a almofada de oração; as joias da sua
esposa; as economías de toda uma vida...
Se
imaginem, que enquanto isto passa pela sua cabeça, o único que se
pode fazer é agrrar a caixinha de doces na qual guarda seus
documentos oficiais e corer para morrer 10 vezes; ou fica na sua
casa, para morrer só uma vez.
* * *
*Manal
Miqdar (Gaza)*
Não é
o que estão imaginando. Pois o que vivemos não tem nada a ver com
sentimentos vãos como coragem, dingnidade. À noite passada foi a
mais dura, mas dessa vez não chorei.
Pela
manhã, depois do primeiro bombardeio dos aviões sionistas, agarrei
minhas forças e comecei a juntar minhas coisas: documentos oficiais,
meu diploma universitario e escolar, certificados, presentes, o que
ficou nas cartas que me escreveu meu tio (quem seguee preso numa
cadeia israelense), meu celular e laptop...
Mas
continuei olhando minha segunda biblioteca, pois a primeira perdi na
guerra passada. Que faço com os livros? São pesados, e seria
dificil carregá-los quando tenha que correr. Então decidi ficar com
aqueles que levam deicatorias dos seus autores.
De
repente senti raiva de mim mesma; essas dores pungentes que podem
matar. Eu, pensando nas minhas coisas... Mas e se a morte me alcança
mais rápido do que eu alcanço minhas coisas? A morte me agarrará
de surpresa, sem avisar, e eu irei com ela sem memoria nem papéis,
nem livros, nem queridos, nem amigos, nem presentes, enm sonhos...
Irei só e leve.
*Pós-escrito.
a meus amigos que tenham livros meus emprestados: se morro, fiquem
com eles, são seus.
*Pós-escrito
a meu primo: se não acontecer nada com minha biblioteca, ela é sua.
(Traducción al portugués por Leandro Bonecini de Almeida)
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