السبت، 30 أغسطس 2014

جزيرة الأشياء الــReady-Made


كل شيء في هذه الجزيرة، كما يوحي به اسمها، حاضر وجاهز منذ الأزل. هذا ما فسّره لبالينوروس المرشد السياحي. لا أعني فقط السماء والجبال والأبطال والثلاجات والدبابيس ووثائق إعلان الاستقلال، بل وأيضًا كل المنتوجات التي يمكن تخيّلها عن ماضينا وحاضرنا ومستقبلنا في هذا المجتمع الاستهلاكيّ الحديث. أقصد، من جهة، تلك المنتوجات التي تقوم بواجب تعبئة أوقات الفراغ، والتي تخفف من عبء القيام بشتى الواجبات التي طالما تُرهق الناس، أو، من جهة أخرى، تلك التي تلبي الرغبة الملحة عند سكان القرية العالمية بإحداث تغيير جذريّ في المجتمع الذي تعيش فيه.

مثلًا،في هذه الجزيرة ليست هناك حاجة لكتابة الرسائل، فكلها باتت مكتوبة. عندنا مجموعة ضخمة من النماذج، وهي تشمل رسائل التهنئة، ورسائل الأنتحار، والرسائل المعطرة، ورسائل لأمك، والرسائل التجارية، والرسائل الدبلوماسية، ولكل نموذج عدد لا نهائي من النماذج تشمل كل الظروف والمزاجات التي قد يجدون أهل الجزيرة أنفسهم فيها.

كذلك بحوزتنا كمبيوترات محكومة بنظريات أقتصادية، سياسية وأجتماعية يمكنها توليد مجلات وصحف بشكل دوريّ كل أسبوع، أو كل يوم، أو مرة كل أسبوعين، أو مرتين بالشهر بحسب الأيديولوجية التي تريدها: الماركسية، الفاشية، الماوية، أو الديمقراطية المسيحية. ولكل مجلة أو صحيفة طبعها الخاص، فلا تخف على خصوصية حزبك السياسي أو مجموعتك المسلحة. وكذلك نبيع مناشير وكتيّبات سياسية تحمل أفكارًا ثورية ومحرضة على النظام، ونبيع الأغاني الثورية ضد الرأسمالية، وضد أرباب الأموال، وضد أضطهاد المثقفين في الدول الأشتراكية، وضد الصهيونية، وضد الأعلانات التجارية وحتى ضد جزيرتنا وكيف تسير الأمور فيها.

ولكن بين جزيرة الــReady-Made وجزيرة الــDo-It-Yourself هناك فرق شاسع، هذا ما أخذ يفسّره المرشد السياحيّ لبالينوروس فجأة. ففي هذه الأخيرة قد تحصل على طقم فيه كتيّب تعليمات وأدوات لصناعة رسالة مفخخة مثلًا. أما في جزيرة الــReady-Made فالرسالة المفخخة سوف تكون عندك جاهزة، وعليك مجرد تحديد عنوان وهوية متلقيها. هناك زبائن يريدون إرسال رسالة مفخخة ولكن لا يعرفون لمن، ولهذا الغرض تقوم الجزيرة بتزويدهم بأعداء Ready-Made، إذ أخترعنا كمبيوترات توفّر للمستخدم ليس فقط الأسم والعنوان بل وأيضًا دوافع وأسباب عملية القتل.


كما ترى، كل شيء هنا في الجزيرة جاهز ومسبق الصنع قبل مجيئك إليها، أي البيوت، والغيوم، والصلوات والعصافير. وكذلك الأمر بالنسبة للحب ومكوّناته، أي الرغبات، والناس، والبحر. تاريخ الجزيرة، ولادتها وودمارها، جاهز. سجل رحلتك وتفسّحك فيها جاهز. 

(فيرناندو ديل باسو)



(بالينوروس ابن المكسيك لفيرناندو ديل باسو، 1977)
(عن الأسبانية)

الجمعة، 1 أغسطس 2014

Gaza no coração


*Jalid Jum'a (Ramala)*
Cidade do México, 22 de Julho de 2014

Saudações a todos os presentes, e muito obrigado por este convite.
Gostaria de falar das mentiras difundidas pela imprensa israelense.

Por exemplo, Israel diz que ela adverte aos palestinos antes de lançar seus mísseis; que nos fazem saber do bombardeio de uma casa antes de destrí-la. Sim, nos advertem. Nos advertem com um míssil fatal, que lançam de uma avião F16, e isto para nos advertir que, dentro de 67 segundos, nos irão lançar outro míssil mais sofisticado, mais forte e preciso.

Que pode alguém fazer em 67 segundo?

Ademais, Israel disse que os objetivos de seus bombardeios não são os civis. Mais de 85% dos assassinados até agora são civis: crianças, mulheres, idosos.

Hoje [terça-feira, 22 de julho] Israel assassinou a uma mulher grávida de oito meses. Ontem matou a uma familia inteira de sete pessoas.

Israel diz que não está matando civis, e que estão deixando as ambulâncias ajudar aos feridos. Agora, en estes momentos, os aviões e tanques insraelenses estão bombardeando o bairro de Jaza'a na cidade de Jan Yunis no sul da Faixa. Há um grande número de palestinos sepultados de baixo dos escombros, e Israel impede as ambulâncias de entrar em Jaza'a. O mesmo ocurreu no bairro de al-Shuya'iyya na cidade de Gaza [o massacre de 66 palestinos neste bairro no passado dia 20 de julho].

Israel está mentindo, está mentindo, está mentindo.

Isto não é o que está acontecendo.

Não só está matando aos palestinos, senão também está roubando seu direito de gritar.

Muito obrigado.


* * *


*Execução de ordens*
*Lena Khalaf Tuffaha (Amman, Jordania)*

Nos estão ligando por telefone, um momento antes de deixar as bombas cairem. O telefone soa e respondo. Do outro lado, há alguém que conhece meu nome, e fala perfeitamente árabe, e me diz: “está falando David”. Enquanto escuto a sinfonía de estampidos sônicos e vidros quebrados, penso: “Conheço algum David em Gaza?”. Mas nos ligaram pelo telefone para nos dizer que corramos daqui, agora. “Vocês têm 58 segundos a partir do final dessa chamada, antes que a casa de vocês seja bombardeada. Não nos importa que você não tenha onde dormir; que as fronteiras estejam fechadas; e seus docuementos não valem um caralho, salvo uma pena de cadeia perpetua nessa prisão ao lado do mar. Corre senhora. Não queremos matá-la”.

“Já sabemos que aí só vive você e seus filhos, comendo pão enquanto vêem a final da Copa do Mundo de Futebol; que querem que Argentina ganhe a partida, e de vez em quando olham para as velas deixadas ao lado da televisão, para quando se corte a luz. É que, você e seus filhos não deveriam viver aí, e agora é sua oportunidade de ir a outro lugar, a nenhum lugar. Sabemos que não te estamos dando suficiente tempo para encontrar o álbum de fotos, a manta favorita do seu filho, a solicitação à universidade quase concluída pela sua filha, seus sapatos, nem sequer para avisar a todos na casa. Não nos importa sua vida. Não nos importa quem é você. Mas nos demonstre que você é um ser humano; nos demonstre que você tem patas; nos demonstre que você pode correr”


* * *


*Jalid Yum'a (Ramala)*

Estar só, o corpo tremendo, e sem luz.
Rezar e esperar que morras em uma sola parte.
Passar ao lado de uma casa destruida, e perguntar-se se ese fragmento formava
parte da cocinha ou éa mão de um martir.
Quando um chuveiro é um luxo exagerado
Quando o mar é um sonho.
Quando a bolsinha de chá é para quatro xícaras.
Quando tudo tem sabor de pedra, inclusive o sorriso.

Ver corpos queimando-se sem poder se aproximar, porque sabe bem que o próximo bombardeio é em 40 segundos, e que será pontual.
Olhar na cara do seus filhos, seus olhos cravados na sua, mas vira o rosto para o outro lado.
Medir a distancia entra a janela que vai para a rua e o banheiro.
Quando sempre dizias que iria tampar essa pequeno buraco na parede da sala, e foi ele que cresceu para salvar sua vida.
Quando a diferença entre um cadeira e uma mesa é a mesma que entre a vida e a morte.
Quando o sonho de conseguir um cigarro é tão distante como o sonho de libertar Palestina.
Quando um minuto é um dia e meio.
A guerra é tudo isso, e muito mais.


* * *


*Mahmud Yawda (Gaza)*

Contarei para vocês o mais dificil de tudo isso, mais dificil que a morte por esses misseis profissionais, de última tecnología. É quando alguém recebe uma chamada telefônica do inimigo israelense e que te diga que você tem 10 minutos para deixar a casa. Se imaginem, 10 minutos. São 10 minutos para apagar sua pequena historia do mapa: presentes; as fotos dos seus amigos, filhos, já sejam martires ou que ainda respirem; sua cadeira; seus livros; o ultimo livro de poemas que leu; a carta que te escreveu sua irmã migrante; o cheiro da sua cama; seu hábito de acariciar o jasmim flutuando na sua janela, essa janela que alguém construiu há 100 anos; o pente da sua filha; o calor da cadeira; sua roupa velha; a almofada de oração; as joias da sua esposa; as economías de toda uma vida...

Se imaginem, que enquanto isto passa pela sua cabeça, o único que se pode fazer é agrrar a caixinha de doces na qual guarda seus documentos oficiais e corer para morrer 10 vezes; ou fica na sua casa, para morrer só uma vez.


* * *


*Manal Miqdar (Gaza)*

Não é o que estão imaginando. Pois o que vivemos não tem nada a ver com sentimentos vãos como coragem, dingnidade. À noite passada foi a mais dura, mas dessa vez não chorei.

Pela manhã, depois do primeiro bombardeio dos aviões sionistas, agarrei minhas forças e comecei a juntar minhas coisas: documentos oficiais, meu diploma universitario e escolar, certificados, presentes, o que ficou nas cartas que me escreveu meu tio (quem seguee preso numa cadeia israelense), meu celular e laptop...

Mas continuei olhando minha segunda biblioteca, pois a primeira perdi na guerra passada. Que faço com os livros? São pesados, e seria dificil carregá-los quando tenha que correr. Então decidi ficar com aqueles que levam deicatorias dos seus autores.

De repente senti raiva de mim mesma; essas dores pungentes que podem matar. Eu, pensando nas minhas coisas... Mas e se a morte me alcança mais rápido do que eu alcanço minhas coisas? A morte me agarrará de surpresa, sem avisar, e eu irei com ela sem memoria nem papéis, nem livros, nem queridos, nem amigos, nem presentes, enm sonhos... Irei só e leve.

*Pós-escrito. a meus amigos que tenham livros meus emprestados: se morro, fiquem com eles, são seus.
*Pós-escrito a meu primo: se não acontecer nada com minha biblioteca, ela é sua.



(Traducción al portugués por Leandro Bonecini de Almeida)